Encontrei uma lista das produções operísticas no Brasil de 2012 no site: Movimento.com
Não creio que o nome seja derivado da ária “Movimento” na minha ópera Tamanduá… em todo caso, fiquei feliz em encontrar um portal com bom conteúdo, e achei interessante a coincidência. Afinal, essa foi a ária em que fiz jovens cantores americanos cantar um repente nordestino rápido, que acaba por se transformar em musical da Broadway, caracterizando o sonho americano do traficante de drogas… Enfim, é o Tamanduá, bandeira, símbolo da nossa terra. Quem tiver curiosidade que leia o resumo da história, ou veja o vídeo dessa cena, onde numa transformação trans-cultural os traficantes do morro foram encenados como gangsters de Chicago, eu tenho sempre um sorriso quando penso nas muitas implicações dessas camadas de interpretação…
Mas eu estava reparando na oferta de espetáculos no Brasil esse ano. Vale observar que a produção está em alta, o que marca uma forte retomada do gênero no país de Carlos Gomes. O Brasil tem sim uma forte tradição operística que continua viva, mesmo quando submersa no inconsciente coletivo das escolas de samba e da mpb.
Mas noto que ainda é pouco, dadas as dimensões continentais da nação. As produções ainda são descoordenadas. Na Europa existe uma associação entre os teatros que cria produções itinerantes, o que baixa os custos e aumenta a oferta ao público.
Também noto que não há incentivo para novos compositores, não existem festivais de ópera contemporânea, não existe um debate sobre o que deve ser a ópera brasileira do século XXI. Os compositores estão abandonados e relegados a seus impulsos heróicos.
Apenas uma nova produção nacional: Ópera “Piedade”, de João Guilherme Ripper, uma louvável encomenda da OPS. Ainda é pouco.
É preciso que sejam criados concursos de nova ópera e que pequenas produções sejam discutidas e desenvolvidas em debates entre criadores, produtores e público. Nós temos grande potencial para ser a nação que trará a tona uma nova maneira de pensar e executar o gênero, mas além de repetir os mestres é preciso investir na criação de novas obras.
Esse é um momento especialmente promissor, um Movimento que entusiasma. Agora podemos unir o poder de comunicão da música popular com a vasta gama de recursos técnicos e musicais desenvolvidos no século passado, além das novas tecnologias de espetáculo. Temos todos os ingredientes na mesa para a criação de dramas complexos e poderosos. Basta mergulhar no movimento. Precisamos ir adiante e dar o passo em direção ao espetáculo total do qual a ópera que conhecemos ainda é apenas uma prévia.
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